Cheguei ao ponto auge. Já não sei para onde me virar, para quem me virar e deixa-me frustrada. Preciso de palavras, preciso que me explique o que se passa. Em que território estou e como é que me viro! Como é que de lá saio, ou como é que faço para tudo ficar melhor. Ninguém me esclarece as dúvidas nem ensina como lidar com elas!
Tenho o coração aos pulos, quase que o vejo saltar-me do peito. pergunto-me porque estará assim. rebelde e fugaz. os batimentos cardíacos transparecem no top branco e isto deixa-me alienada, suspiro a cada cinco segundos á espera que o ar volte aos meus pulmões, mas não, continuo sem ar. Respiro mais rápido, encho o peito de ar e prendo-o. fico sem respirar durante tempo ilimitado e tento acordar! E dizem-me no fim de tudo que estou branca, pálida como o cal e ridicularizam ao perguntarem se vi um fantasma. Não vi, mas preferia que o tivesse visto.
Dou-me o peito. Sinto-o pesado, cheio, prestes a transbordar. O sangue sobe-me á cabeça e apetece-me destruir tudo á minha volta. arrebentar com um vidro, bater com a porta do quarto com tanta força que a fechadura acabaria por se partir.
Preciso de me ir embora. voltar as costas a esta vila e não olhar para trás. Relembrar coisas que já esqueci, esquecer o que já á muito tempo devia de ter esquecido e limpar tudo o que me faz pesada, triste e magoada, porque necessito de algo novo. Ou então não. então sou eu que já nem sei do que é que tenho falta. Tenho falta dela. a fazer-me festas no cabelo encaracolado a embalar-me na voz dela. a forma como ela obrigava as mágoas a desaparecerem, essa forma que ainda hoje usa, ao ver-me pelo vidro da moldura chorar desalmadamente lágrimas sem sentido. adoro como ela continua a tomar conta de mim. a forma como ela odeia ver-me triste por causa dela, ou de outra pessoa qualquer. o orgulho que paira no ar do quarto quando, partilho com alguém o que eu nunca sobe partilhar. avó, doi-me! tanto, que me custa a pegar nele. ajuda-me a parar.
