Grupo III , Português

"Se bem me recordo era um dia negro, nuvens carregadas de água de um preto tão escuro que se confundia com o tom do céu duvidosamente estrelado. Corria uma brisa quente, quase como um bafo de animal. Não me esqueço dessa noite. Acho até que me vai ficar a "sujar" a memória durante um grande período de tempo.
Arranquei durante anos, meses semanas, o meu coração do peito para te o entregar de bandeja, da forma mais simples e forte como ele batia. Agradava-te esse bater sincronizado que ouvias constantemente, quando te agarravas a mim num abraço que eu pensei ser interminável. Tu próprio afirmas-te, de punho serrado, que seria infinito, que para ti significava para sempre. Quando usas-te essa conjugação de tempo, bloqueei, pois sempre, para mim, é tempo infinito e ao olhar-me mil vezes ao espelho percebo que sou feita de tudo o que nenhuma criatura é, flutuo em liberdade e, o contigo para sempre é muito tempo para esta preciosa borboleta, que só pensa em voar. Vendo agora, de forma clara dei-te tudo, mais do que alguma vez dei e, devias sentir privilégio nisso. Na forma clara como te o provei e na mais explicita como te abandonei. Abandonei, para não te amar sem amor e desprezar apesar de não o mereceres. Deixei-te pelo teu bem, porque esta borboleta precisa de voar várias vezes para ter a certeza, de quando pousar. E espero um dia ser capaz."

Madalena Pólvora